tag:blogger.com,1999:blog-46856023427627749842024-02-08T05:55:40.741-08:00ESCREVA-SEESPAÇO CRIADO PARA POSTAR MEUS POEMAS, CONTOS E REFLEXÕES, ALEM DE ACEITAR TEXTOS DE OUTROS AUTORES, PARA TAL, BASTA ENVIÁ-LOS PARA fsnmagister@gmail.com, QUE NA MEDIDA DO POSSÍVEL ESTAREI PUBLICANDO-OS AQUI.Francisco Netohttp://www.blogger.com/profile/15752432249139993908noreply@blogger.comBlogger4125tag:blogger.com,1999:blog-4685602342762774984.post-75362352419293276722010-09-24T07:32:00.000-07:002010-09-24T07:32:38.115-07:00CÁ DENTRO CHOVE<m:smallfrac m:val="off"> <m:dispdef> <m:lmargin m:val="0"> <m:rmargin m:val="0"> <m:defjc m:val="centerGroup"> <m:wrapindent m:val="1440"> <m:intlim m:val="subSup"> <m:narylim m:val="undOvr"> </m:narylim></m:intlim> </m:wrapindent> </m:defjc></m:rmargin></m:lmargin></m:dispdef></m:smallfrac><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoBodyText" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;"> <span style="font-size: small;"> </span><span style="font-size: small;">A chuva cai num inverno triste, onde janelas e portas fechadas anunciam a solidão do mundo, regada a gotículas gélidas que, num aglomerado, desabam sobre as ruas de granito. E não adianta chorar nem beber. O jeito é suportar o inferno desse vazio, ouvir música, ler ou simplesmente dormir, esquecer que existe vida (ou procurá-la nas paragens diáfanas dos sonhos).</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"> Que horas são? Pergunto para a chuva, olho para o espelho. Nove horas da manhã, talvez. Parece que o sol quer vencer a chuva.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">Porque as nuvens são tão negras sinto falta de luz e detenho a respiração por não agüentar mais me privar de ar ( ) inspirar expirar instantes de vida dentro fora vida morte vida morte expirar fico sem vida volto a inspirar e lembro que pode ser o último sopro quando sai (... entrego meu espírito em tuas mãos) preciso respirar o ciclo em movimentos mecânicos como num coito sem tesão ( ) vida chora geme ( ) o mundo chove e lá se vão as horas os dias como páginas viradas e viradas e viradas de um livro infinito que narra infinitas vidas. Não sei...</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"> Tenho que ir trabalhar. Acho que não. Deixarei aquelas bestas autômatos executando seus movimentos programados por um tubarão qualquer, que depois as devorará. E eu não chorarei uma gota de chuva por elas. Seus corações programados não merecem minha mais sublime linfa.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"> Tomo banho, tomo café, acendo um cigarro, o espelho me olha: o que vê não sou eu, é um autômato que chove, rejeitado pelos tubarões, e que tenta se devorar. O espelho escurece, troveja e eu não me vejo mais: o espelho também me rejeita.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"> Não consigo ir. Ressurge a idéia sublime do sono, com suas paragens diáfanas. Não preciso ficar. Melhor dormir e dormir e dormir. E sonhar e sonhar e sonhar.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"> Mas são nove horas da manhã e chove. Chove lá fora. Chove cá dentro. O sol se retira para se esconder atrás de uma nuvem negra. Eu me comunico com as gotículas dessa nuvem, imploro que deixem o sol passar. Preciso de luz. No entanto, vejo a noite chegar. Necessito do sol.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"> Por que tenho necessidade de sol se a noite já chegou, se por trás dessas nuvens gris, existem estrelas que esperam por mim, só por mim, e me farão luz, para eu não precisar de sol?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"> Ainda vejo o quarto, os corredores, o choro, o riso. Meus livros e discos esperam ser tocados pela delicadeza ardida da luz, mas é a noite que os envolve e sela sua mensagem mágica. Já não chovo, choro, e o espelho me aceita de volta: não sou eu.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"> A noite torna-se intensa, envolve tudo, não só os livros e os discos, tudo que possa falar, pensar, imprimir sensações, vencendo-os, subjugando-os, mas não vence o espelho: ele possui um sol em si.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"> </span>Eu me apago, escureço, ficam só o espelho e a chuva desse inverno triste e as nuvens negras que escondem o sol. A noite impera negra como o sono sem sonhos. Eu durmo, não sonho.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"> Escovo os dentes, pego a pasta a tiracolo, verifico se tem dinheiro na carteira, coloco um chiclete sem açúcar na boca e sigo para ser devorado pelos tubarões que me rejeitam.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"> Abro a porta. Nove e cinco. O dia ensolarado ofusca minha visão. Faz sol. Ponho os óculos escuros, fecho a porta e vou.</div>Francisco Netohttp://www.blogger.com/profile/15752432249139993908noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4685602342762774984.post-41891355702846915992010-09-22T09:17:00.000-07:002010-09-22T09:17:57.335-07:00UMA TELA<m:smallfrac m:val="off"> <m:dispdef> <m:lmargin m:val="0"> <m:rmargin m:val="0"> <m:defjc m:val="centerGroup"> <m:wrapindent m:val="1440"> <m:intlim m:val="subSup"> <m:narylim m:val="undOvr"> </m:narylim></m:intlim> </m:wrapindent> </m:defjc></m:rmargin></m:lmargin></m:dispdef></m:smallfrac><br />
<div class="MsoTitle" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"> <span style="font-weight: normal;">Era sempre assim quando João a encontrava e naquele dia não podia ser diferente.</span></div><div class="MsoTitle" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"> As cores do dia já morriam bem longe no mundo. Um horizonte de fogo dominava tudo, numa explosão de vermelho intenso. Um espetáculo de pura paixão, muito, muito longe. Cá, as cores se apaziguavam em tons de cinza e luto, com as luzes da cidade tentando vencer o negror que começava a se apoderar das coisas.</span></div><div class="MsoTitle" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"> João começou pintando tons suaves, pastéis, quase mornos, mas com uma profundidade de paixão. Usava as mãos, os dedos mais precisamente. Comprimia-os com cuidado para não machucá-la. Ela apenas o observava, imóvel, esperando as cores que a tornariam viva e mágica. Tudo tinha uma pulsação dionisíaca: aquelas cores, aqueles dedos. Ela passiva suspirava de prazer.</span></div><div class="MsoTitle" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"> Os movimentos dele começaram a ficar mais poderosos. Todo o corpo se concentrava em imprimir cor. O vermelho intenso começou a surgir em pinceladas que pareciam penetrá-la. Ela gemeu. Ele respirou fundo e gemeu também. Ela se esgueirava tentando fugir das investidas intrépidas de João, mas ele a dominava e subjugou-a totalmente.</span></div><div class="MsoTitle" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"> Houve um momento de calma total, breve. João apenas sentia as cores. Olhos fechados, era todo tato. Ela pulsava, era toda cor. Já sentia delineando-se a explosão que viria. João imprimiu ritmo nas pinceladas usando também os dedos. Provocou-se uma confusão nas cores, as respirações se confundiram. Só havia cores intensas. Ela gemeu alto e se entregou finalmente. Ele rosnou feito bicho. Ela cravou-lhe as unhas nas costas. Ele lhe mordia toda. Ela desfaleceu em gozo, ele explodiu de prazer e tudo se fez cor para os dois. Cores intensas que foram, em dégradé, perdendo a intensidade, até tornarem-se calmas como a noite que tudo domina. As respirações apaziguaram-se. Fez-se silêncio e a calmaria da satisfação tomou conta de tudo.</span></div><div class="MsoTitle" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"> Houve silêncio, um mudo silêncio de lago, um silêncio de tudo. E em um canto do quarto, a tela, em branco, esperava quieta sua vez de ser possuída.</span></div><div class="MsoTitle" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><br />
</div>Francisco Netohttp://www.blogger.com/profile/15752432249139993908noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4685602342762774984.post-55695654861564721192010-09-22T09:14:00.000-07:002010-09-22T09:14:09.218-07:00MÚLTIPLA<m:smallfrac m:val="off"> <m:dispdef> <m:lmargin m:val="0"> <m:rmargin m:val="0"> <m:defjc m:val="centerGroup"> <m:wrapindent m:val="1440"> <m:intlim m:val="subSup"> <m:narylim m:val="undOvr"> </m:narylim></m:intlim> </m:wrapindent> </m:defjc></m:rmargin></m:lmargin></m:dispdef></m:smallfrac><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt;">Circula por mim uma criatura adorável:</div><div class="MsoNormal">às vezes imploro sua atenção e ela não me dá</div><div class="MsoNormal">não entende o chamado o achado que eu tenho em mãos.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Ela é múltipla dois pontos</div><div class="MsoNormal">Helga dos Santos,</div><div class="MsoNormal">Jullia Bitencurt,</div><div class="MsoNormal">Beta Má.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Muito má.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Muito água</div><div class="MsoNormal">porque consegue carregar meus medos em sua imensa sensação de consciência.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">É linda.</div><div class="MsoNormal">É bela.</div><div class="MsoNormal">E permite que aqueles desqualificados pela vida transitem entre seus modos e medos.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Prometeu que eu seria desacorrentado através da música eletrônica</div><div class="MsoNormal">e até hoje o meu fígado continua sendo consumido pela porcaria acústica que ronda as ondas.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Tenho em mim que preciso dormir muito para poder entendê-la.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Acordar não adianta,</div><div class="MsoNormal">ela está além de qualquer estado de consciência,</div><div class="MsoNormal">ela está além de qualquer sensação de consciência.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Hei de fazer yoga com Helga</div><div class="MsoNormal">e se não der</div><div class="MsoNormal">continuarei fazendo palavras</div><div class="MsoNormal">numa tentativa espúria de dizê-la.</div>Francisco Netohttp://www.blogger.com/profile/15752432249139993908noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4685602342762774984.post-53867939433618218742010-09-22T09:08:00.001-07:002010-09-22T09:08:24.528-07:00PLATÃO, PLATÃO<m:smallfrac m:val="off"> <m:dispdef> <m:lmargin m:val="0"> <m:rmargin m:val="0"> <m:defjc m:val="centerGroup"> <m:wrapindent m:val="1440"> <m:intlim m:val="subSup"> <m:narylim m:val="undOvr"> </m:narylim></m:intlim> </m:wrapindent> </m:defjc></m:rmargin></m:lmargin></m:dispdef></m:smallfrac><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;">Ela sempre chegava para interromper minhas leituras, querendo saber com quem eu estava saindo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;"> – Com ninguém, respondia com amargura e desdém.</div><div align="left" class="MsoBodyText" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt; text-align: left;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"> – Também, dava de ombros, só vive lendo essas velharias, puxava o livro das minhas mãos, lia um trecho em voz alta e dizia: bosta, virava a página e novamente, bosta.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;"> Aquilo me irritava ao extremo e eu só me controlava por sua causa, por saber que o nosso ponto de convergência é a leitura, mais especificamente, o discurso de Aristófanes, e nada que ela falasse poderia me afetar tanto quanto sentir a sua falta. Eu detestava esse comportamento dela, mas precisava da sua presença, porque através dos seus olhos e sexo, eu via o mundo e seus prazeres. Mas ela se foi, você também, e hoje eu vivo cada momento esperando sua volta, apesar de saber que os flashes de luzes multicoloridas, acordando-me a cada instante, são suficientes para reavivar sua lembrança e garantir minhas certezas. São momentos mágicos, esses, com a duração de um pensamento, que me devolvem a espera da vida.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;"> A certeza que me cerca nesses momentos é chave de toda minha existência e eu não sei. Talvez nunca o saiba. Apenas lembro os primeiros instantes loucos com você e aquela falta de certeza dentro da minha alma. ‘Quero conversar sobre isso sim, não adianta fazer essa cara’.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;"> Eu lhe beijei a boca pela primeira vez, por impulso, e gostei. Seu corpo roçando o meu, você sussurrando no meu ouvido ‘Platão, Platão’. Eu não entendia nada. Hoje, durante as luzes, começo a juntar os pedaços daquele verão enlouquecido, no qual você fervia em meus braços, gemia o nome do filósofo, para depois cair em desmaio de gozo. Sei lá o que pensei daquilo tudo, apenas achei engraçado no momento, depois diluí tudo num esquecimento torpe, típico daqueles dias quentes e sudorosos – e o espelho, na sala, suava.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;"> Lembro-me com clareza da falta de certeza rondando você, como uma segunda aura. Meu Deus! aquilo me incomodava mais que sua ausência. Mas ia com você, buscando certas verdades escondidas e lhe dando coragem, ‘lembra?’. Eu era a sua indubitável certeza, pelo menos era o que você dizia: ‘você é minha única e última esperança’, eu ria e acreditava.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;"> E os dias corriam quentes dentro e fora de mim, até que veio aquela chuva torrencial, você me pediu algum dinheiro para comprar cigarros, pegou o guardachuva, saiu e não voltou. Três dias depois, ouvi naquela AM louquíssima, na voz de algum locutor rouco e escandaloso:</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;"> – Corpo encontrado todo mutilado, no manguezal da praia – disse o rouco escandaloso. – A identificação só foi possível por meio dos documentos encontrados ao lado do corpo, tamanha era a mutilação.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;"> Segundo o escandaloso, o corpo havia sofrido necrofilia.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;"> Naquele dia eu morri. Apesar de suas ausências constantes, você sempre voltava. A partir daquele dia, nunca mais. Eu morri. Morri porque você não existia mais, porque estava lhe amando e sabia ser impossível o amar, porque as coisas não cabiam. Eu me desesperava: chorei e não fui trabalhar, emagreci. Procurei saber e entender tudo, mas não consegui atinar em nada. Entrei em depressão. Tomei tranqüilizante. Fumei maconha. Bebi tudo que pudesse me anestesiar. Chorei, chorei, chorei em cântaros. Nada conseguia aplacar meu desespero. Pensei em suicídio, cheguei a tentar, não tive coragem de cometê-lo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;"> Peguei licença médica e fui me esconder de mim numa clínica de repouso. Tempos depois, estava de volta à realidade, pois tinha de recomeçar a viver. Decidi, desde então, não me apaixonar por mais ninguém. </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;"> Foi ela que começou a perceber tudo, a me revelar, olhando no espelho, despertando você dos mortos. Era um domingo chuvoso e eu lia avidamente o mito do andrógeno de Aristófanes. ‘Platão, Platão’. Ela sempre me criticou por gostar tanto de velharia e, naquele domingo, procurou na estante de livros na sala da frente algum livro interessante, encontrando um que lhe atraiu bastante. Era um livro sobre psicologia, um tratado a respeito das disfunções de personalidade, causadas pela solidão e falta de atividade sexual. O livro estava todo marcado e dentro dele encontravam-se algumas cartas que você me escrevera. Ela começou a lê-las, sendo que, a medida que passava de uma para outra, sua fisionomia irradiava estupefação, logo transformada numa sonora gargalhada.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;"> – Que coisa ridícula, disse. Você precisa se tratar.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;"> Passou a ler as cartas em voz alta, zombando, enfatizando algumas passagens que achava mais ridículas, gesticulava.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;"> Então, você apareceu. Acho que saiu do espelho, não sei. Aproximou-se dela, que não lhe notou a presença, tão concentrada estava em me ridicularizar, segurou-a pelo pescoço vigorosamente, não houve reação, em poucos minutos ela estava estendida no tapete.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12pt;"> Olhamo-nos, num misto de saudade e terror, eu na sala, você no espelho e nos beijamos demoradamente. Eu lhe mordi o pescoço, você me mordeu a orelha. Eu sussurrei ‘Platão, Platão’ e me entreguei de novo. Agora entendia e ria. Nua, estendida no tapete, ela parecia nos observar – não sei por que, mas participava do nosso gozo. Não importa, eu estava amando você novamente e, desta vez, não deixaria você comprar cigarros. </div>Francisco Netohttp://www.blogger.com/profile/15752432249139993908noreply@blogger.com0